O samba enredo é real, mas a escola de samba
não, o Grêmio Recreativo Escola de samba Para Sempre Unidos de Berlim é pura
ficção. Essa mistura, no entanto, resultou no clip do samba “Derruba o muro, mistura
tudo e que Deus nos acuda!" (Ronald Junqueiro/Pedrinho Cavalléro) que
assina o último capítulo do romance “Berlinda – asas para o fim do mundo”.
O CD e o clipe
foram apresentados pela primeira vez, em Berlim, em janeiro deste ano e só
agora fiz o lançamento em Belém, durante um bate papo sobre fotografia e
literatura, com direito a trilha musical com a participação da Berlinda Band,
outro elemento dessa ficção que se concretizou. O encontro foi realizado no
auditório do Sesc Boulevard, na terça-feira, dia 07 de outubro, com uma grande
alegria de fechar um ciclo iniciado há quase um ano.
No próximo
sábado venho aqui contar um pouco mais de tudo isso. Hoje não dá, pois a cidade
está em festa e amanhã é o grande dia da Padroeira de Belém, a Virgem de
Nazaré, a grande estrela do Círio de Nazaré, que se realizada a mais de
duzentos anos, em Belém.
Vou deixar aqui o clip do samba e um fragmento do meu romance.
FELIZ CÍRIO!
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Outubro
transformava a cidade. Belém, querida cidade barulhenta. Outubro tinha vida
própria, e Belém despertava todos os dias em clima de festa. As pessoas
preparavam-se para o segundo domingo do mês, antecipavam dezembro e o Natal.
Vinha gente de onde nem se imaginava, pelas estradas, pelos rios, pelos voos
lotados. Era como se houvessem atiçado alguma casa de saúvas e formigas
intencionalmente. Aquela gente invadia todos os cantos em nome da fé e de
esperanças renovadas, havia promessas a serem pagas na grande procissão da
Virgem de Nazaré, a padroeira, a milagreira, como relatavam os romeiros e
devotos, adoradores da Santa, fé aprendida desde a infância. Na procissão do
domingo, os pagadores de promessas alcançadas levavam imagens de cera,
ex-votos, modelos de casas em isopor ou miriti, tijolos na cabeça, cruzes
pesadas. Crianças seguiam na romaria vestidas de anjo, homens e mulheres usavam
mortalhas. Tudo era espetáculo. Tinha cobertura das redes de televisão
estrangeiras, produtores de documentários, curtas e longas-metragens. Nem o
Vaticano conseguia atrair essa massa humana nos dias em que o Papa abençoava os
fiéis. O segundo domingo de outubro era devoção e festa. Banquete, comilança.
Família reunida e casas de portas abertas para quem chegasse. À noite, shows
na praça santuário e um velho parque de diversões sem novidades, com
brinquedos previsíveis. Bêbados, brigas, assaltos.
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