A Round Table no Salão Rosa do Hotel Algonquin (rua 44, Oeste, NY), caricatura de Al Hirschfeld. |
FRUSTRAÇÃO
Se eu tivesse uma arma neste momento
Teria um mundo de divertimento
espalhando balas nos cérebros, sem pudor,
daqueles que me causaram dor.
Ou tivesse eu algum gás venenoso
teria um passatempo gostoso
acabando com um número indigesto
de pessoas que detesto
Mas não tenho nenhuma arma mortal
Assim, a Fatalidade não me dá prazer tal.
Então eles ainda estão lépidos e fagueiros
aqueles que mereceriam o inferno por inteiro.
(Dorothy Parker. Trad. Angela Carneiro)
Teria um mundo de divertimento
espalhando balas nos cérebros, sem pudor,
daqueles que me causaram dor.
Ou tivesse eu algum gás venenoso
teria um passatempo gostoso
acabando com um número indigesto
de pessoas que detesto
Mas não tenho nenhuma arma mortal
Assim, a Fatalidade não me dá prazer tal.
Então eles ainda estão lépidos e fagueiros
aqueles que mereceriam o inferno por inteiro.
(Dorothy Parker. Trad. Angela Carneiro)
Depois da
apresentação do CD da trilha musical de “Berlinda”, com a participação da
Berlinda Band, um grupo que nasceu junto com a gravação do disco
dirigida pelo músico Hélio Silva, eu faço uma parada e deixo a berlinda seguir
seu caminho. Agora, com o samba enredo que está nas redes sociais e no Youtube.
Foi um ano de muito trabalho e dedicação ao projeto que juntou literatura,
música e o audiovisual, mas que me deu muita alegria, me fez acalentar novos sonhos e saber,
também, que encontrar um pedaço de chão no universo da literatura é tarefa
árdua. E em meio a bienais nacionais e
internacionais e de um mercado aberto mais para best sellers, aprendi que o esforço para lançar um
livro, é esmagador. A questão é: encarar a próxima aventura. O meu projeto
não é desistir. Mas na jogada, o grande lance é como finalizar o gol.
Algumas coisas ainda fervilham na cabeça e não
sei o quanto devo deixar maturar, quando penso que meter o pé na estrada dos
livros poderia ter sido mais cedo. Mas quando? Quando a gente sente que está
pronto para dar o primeiro passo? Acho
que não há resposta. Que o digam as biografias dos autores. De qualquer forma,
entrar no universo do livro tem que contar com uma dose de sorte para mostrar o
que deixa de ser sonho para ser produto que conquiste o leitor. Isso pode
custar muito, uma vida e até o pós-vida.
Talvez
eu pudesse ter começado mais cedo, mas o jornalismo me envolveu muito, era como
bombinha de oxigênio, até o dia em que me vi fora de uma redação e sem rumo.
Nem pensava na literatura como caminho possível para uma atividade que fazia
parte da minha estrutura mental e intelectual: produzir textos.
Feita
essa primeira caminhada, há um tanto de esgotamento, pois escrever o livro e o
que veio depois foi uma coisa paralela pesada, uma vez que tenho de sobreviver e isso
significa trabalhar regularmente - aqui nem cabe levantar a bola do prazer e da
felicidade de batalhar pelo ganha-pão.
Faço
pausa sem pausa, pois saio da frente da tela onde escrevo e me fantasio de
leitor ameaçado prazeirosamente por uma fila de livros que não tem fim.
Ainda
leio ‘Dance Dance Dance’, de Haruki Murakami, que está na estante dos autores
asiáticos, que retomei recentemente.
Numa
outra banda estão os autores de língua árabe que, na verdade, estou
descobrindo. Comecei a ler ‘E nós cobrimos seus olhos – uma novela e outros
contos’, do egípcio Alaa Al Aswany, traduzido do árabe para o português do
Brasil. Estou formando uma pequena biblioteca desses autores, sem esquecer que
perdi minha virgindade como leitor com as 'Mil e uma noites', há muitos anos.
Mais tarde faço uma lista do que consegui em alguns sebos interessantes.
Há
a fila das releituras, encabeçada por ‘Z’, de Vassilis Vassilikos, ‘Somos todos
arlequins’, de Vladmir Nabokov e alguns casos interessantes desse cerco com o
qual me defronto.
Mas desde ontem,
por exemplo, vira e mexe meus olhos eram atraídos para uma pilha de livros
quieta num móvel da sala e um deles parecia me chamar com uma insistência fora
do normal. Como resistir?
Hoje, antes do almoço, peguei
o livro e fui para o conto que dá título à coletânea de textos de Dorothy
Parker, ‘Big Loira’, editado pela Companhia das Letras, em 1987. É o único
livro que eu tenho dela e que me faz viajar para a década de 30, do século
passado. Pouco traduzida no Brasil, essa genial escritora, dramaturga, poeta e
crítica estadunidense (1893/1967), amada e odiada por seus contemporâneos,
morreu pobre.
Clare Booth
Luce, mulher do influente editor da revista Time, Henry Luce, cruzou com ela
(Dorothy Parker) numa porta giratória. As duas não se gostavam – uma maneira
suave de dizer que se detestavam. Clare era mais jovem. Cortesmente, deixou
Dorothy Parker passar primeiro pela porta, só que dizendo:
- As velhas, antes das belas.
Parker desfechou no ato:
- As pérolas, antes das porcas.
Enquanto Henry Luce foi vivo, Dorothy
nunca mais saiu na Time.
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