sábado, 13 de setembro de 2014

Pra não dizer que não falei de poesia e... de flores

Flores para anunciar "Inocência"


1

Há no haver a vontade
da unidade

2

Eu quero haver visto a
Unidade
dualidade
tua cidade
pátria pétrea
só cada um é um
e todos são muitos
mas cada um é só um
(Coda, poema de Udo Baingo, retirado do livro Inocência)
          Poesia é coisa indecifrável se lhe atribuímos alma de esfinge. Esse é um dos seus maiores desafios para mim quando me deixo vagar por seus versos e vias trans_diversas da criação poética. E cada cabeça de poeta é uma galáxia. Levaríamos a vida toda numa contagem regressiva para explorar a menor das estrelas onde pousássemos. Esse é meu drama de leitor de poetas, eu que já me perco em Fernando Pessoas com seus anéis saturninos e as outras pessoas que dele derivam ou das quais ele é derivado. Difícil sair dessa zona por onde vago desde que conheci os escritos do poeta. Elegi Pessoa como meu chão e meu céu. Mas, de vez em quando deslizo para os lados ou dou um passo à frente, desligo os efeitos dessa de gravidade e pego carona para outros universos, como agora, em “Inocência”, livro de poesias de Udo Baingo, um brasileiro berlinense com quem me correspondo há alguns anos. Primeiro, pelas vias virtuais. Depois nos materializamos em um encontro em Berlim, quando fui lançar meu romance “Berlinda” com a trilha musical.

          Apanhei o envelope amarelo sobre a mesa da sala. Um selo azul do Luftpost, o correio alemão, com uma tirinha azul com a palavra ‘priority’ e dois selos com imagens florais: uma Schwertlilie e uma Goldmohn. Acho que são um exemplar da Iris germânica lilás e de uma papoula amarela. Os selos criaram uma aura poética para o que estava no interior do envelope: o livro ‘Inocência’ (2011), com a poesia de Udo Baingo, editado pela Futurarte Poesia, selo da editora Multifoco, do Rio de Janeiro.

          De flores é bem mais simples dizer alguma coisa, como o genial compositor Cartola a cantar “As rosas não falam”. A poesia, como as rosas, pode exalar perfume e aí já encontro um motivo para ler poesias com o cheiro do seu tempo, de imaginar a mão do autor desenhando sua inspiração em versos. Mas nem por isso a poesia deixa de ser coisa indecifrável quando dela queremos desvendar o íntimo, ir além das formas e rimas. Por isso acho que de poesia prefiro passear na emoção que ela provoca. Poesias não são coisas a serem decifradas.

          Fiquei longe do Diário da Berlinda por deixar-me ao sabor do tempo e de tantas coisas a fazer, textos a revisar, coisas do trabalho, que me deixaram um tanto irritado. Quando chegou o livro do Udo, foi como um recado: revise os textos do trabalho, que nem sempre dão prazer e sim muito trabalho, mas lembre de que você está cercado de poesia.

          Precisamos ficar atentos ao cotidiano que pode empedrar nosso olhar e nossas emoções, a criatividade no ver.

           Esta semana começo a roteirizar uma apresentação de fotos feitas em Berlim, para um bate papo no auditório do SESC Boulevard, sobre a relação das imagens com a literatura. Vou ler alguns trechos do livro e fechar com a apresentação da Berlinda Band, que irá apresentar um show completo com as músicas compostas para a trilha do romance.



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