sábado, 27 de setembro de 2014

Da imagem ao texto

Selfie ou autoretrato, seja lá o que for





O que dizem as imagens quando não são miragens?

E por trás das imagens onde se ocultam miragens?

E se o texto aceitar ser  cúmplice dessas viagens?

Abra as portas da imaginação, da auto-voragem

sábado, 20 de setembro de 2014

Sábados não podem ser clonados

Cercado por partículas elementares em busca da despalavra.




Os sábados dos sábios não são os sábados dos bêbados
Os sábados podem ser dos poetas. Mas não só deles.
Os sábados chegam para os indiferentes às dores do amor
Para os que procuram um deus numa partícula de Bósons
E os vestígios que levem à fé vislumbrada por Higgs
Na caçada às outras partículas elementares e ordinárias
Da poeira que flutua no tempo a cobrir nossas emoções.

Não me roubem o sábado que me serve de ponte
Para as terras do nunca ou um passeio na tarde.
Os sábados são travessias como são outros dias
Mas só a eles me apeguei por motivos que nem sei
Os sábados se apresentam como fatos inexplicáveis
Mas falam por si mesmos como se fossem fotografias
Que valem por mil textos, dispensam legendas.

Sábados me ensinaram a viver feliz na despalavra
Como o barro onde imprimi os versos de Barros
Aprendi o silêncio, velho amigo e cúmplice do tempo,
Que às vezes é quebrado pelo barulho do relógio
Objeto inútil a querer apressar o adeus aos sábados.
Sábados apenas cumprem o que lhes reserva o destino
A morte é apenas um lapso, a vida é mais que um átimo.

Mesmo que meus sonhos sejam desprezível átomo
Os sábados provocam reações químicas infinitas
Então me vejo a pensar nas nuvens, na noite, na chuva
A revolver as lembranças em terra encharcada
A umedecer meus olhos com lágrimas abençoadas
Pela alegria inesperada ou pela tristeza que não domo
E que não se repetem assim como os sábados. E o amor.


sábado, 13 de setembro de 2014

Pra não dizer que não falei de poesia e... de flores

Flores para anunciar "Inocência"


1

Há no haver a vontade
da unidade

2

Eu quero haver visto a
Unidade
dualidade
tua cidade
pátria pétrea
só cada um é um
e todos são muitos
mas cada um é só um
(Coda, poema de Udo Baingo, retirado do livro Inocência)
          Poesia é coisa indecifrável se lhe atribuímos alma de esfinge. Esse é um dos seus maiores desafios para mim quando me deixo vagar por seus versos e vias trans_diversas da criação poética. E cada cabeça de poeta é uma galáxia. Levaríamos a vida toda numa contagem regressiva para explorar a menor das estrelas onde pousássemos. Esse é meu drama de leitor de poetas, eu que já me perco em Fernando Pessoas com seus anéis saturninos e as outras pessoas que dele derivam ou das quais ele é derivado. Difícil sair dessa zona por onde vago desde que conheci os escritos do poeta. Elegi Pessoa como meu chão e meu céu. Mas, de vez em quando deslizo para os lados ou dou um passo à frente, desligo os efeitos dessa de gravidade e pego carona para outros universos, como agora, em “Inocência”, livro de poesias de Udo Baingo, um brasileiro berlinense com quem me correspondo há alguns anos. Primeiro, pelas vias virtuais. Depois nos materializamos em um encontro em Berlim, quando fui lançar meu romance “Berlinda” com a trilha musical.

          Apanhei o envelope amarelo sobre a mesa da sala. Um selo azul do Luftpost, o correio alemão, com uma tirinha azul com a palavra ‘priority’ e dois selos com imagens florais: uma Schwertlilie e uma Goldmohn. Acho que são um exemplar da Iris germânica lilás e de uma papoula amarela. Os selos criaram uma aura poética para o que estava no interior do envelope: o livro ‘Inocência’ (2011), com a poesia de Udo Baingo, editado pela Futurarte Poesia, selo da editora Multifoco, do Rio de Janeiro.

          De flores é bem mais simples dizer alguma coisa, como o genial compositor Cartola a cantar “As rosas não falam”. A poesia, como as rosas, pode exalar perfume e aí já encontro um motivo para ler poesias com o cheiro do seu tempo, de imaginar a mão do autor desenhando sua inspiração em versos. Mas nem por isso a poesia deixa de ser coisa indecifrável quando dela queremos desvendar o íntimo, ir além das formas e rimas. Por isso acho que de poesia prefiro passear na emoção que ela provoca. Poesias não são coisas a serem decifradas.

          Fiquei longe do Diário da Berlinda por deixar-me ao sabor do tempo e de tantas coisas a fazer, textos a revisar, coisas do trabalho, que me deixaram um tanto irritado. Quando chegou o livro do Udo, foi como um recado: revise os textos do trabalho, que nem sempre dão prazer e sim muito trabalho, mas lembre de que você está cercado de poesia.

          Precisamos ficar atentos ao cotidiano que pode empedrar nosso olhar e nossas emoções, a criatividade no ver.

           Esta semana começo a roteirizar uma apresentação de fotos feitas em Berlim, para um bate papo no auditório do SESC Boulevard, sobre a relação das imagens com a literatura. Vou ler alguns trechos do livro e fechar com a apresentação da Berlinda Band, que irá apresentar um show completo com as músicas compostas para a trilha do romance.