domingo, 10 de agosto de 2014

Faça o que for possível

Depois de Berlim, o 'Berlinda' está em Hamburgo



Deixei passar o sábado ao sabor de um 'dolce far niente'. Há dias assim e arrisco dizer que o seja para todo mundo. Dobrei-me ao sono e ele veio fácil. Ao meu lado, o esquerdo, 'Cândido ou O Otimismo', de Voltaire e 'Dance Dance Dance' de Haruki Murakami. Dois tempos distantes e duas culturas de extremos geográficos. Ando desse jeito, fazendo leituras paralelamente, passeio em épocas e sentimentos convergentes em relação à busca, como fazem os personagens dos dois livros.

Acordei no domingo com uma pitada de remorso por esconder o sábado em sonhos. Sonho muito, sonhos com enredo, mas me sou acometido por preguiça intensa de para eles fazer um diário.


Na sexta-feira sonhei com meus pais, que já vão longe daqui. No sábado, a mesma coisa. Todos reunidos no casarão onde morávamos e que hoje não mais existe. 


Hoje é o dia dos pais. Meu pai teve um papel importante em me ensinar um pouco sobre a serenidade do ser, contraponto da ansiedade de mama que era provocadora no sentido de que cada um de nós procurasse o bom caminho para a realização profissional e na vida. Eles estão num cantinho especial das minhas lembranças. Não consigo separar os dois nos dias de comemoração, seja o dia dos pais ou das mães, por serem unidade e complemento um do outro. O almoço ganhava um ar festivo, mas não havia o ritual de dar presentes. Os irmãos mais velhos que trabalhavam presenteavam; os mais novos, desempregados, pegavam a carona para manifestar afeto e amor a eles, feito de beijos e abraços. Uma lição para nós que nem sabíamos o que era consumismo desenfreado para demonstrar amor filial nessas datas queridas ao comércio. Mas ficou outra lição mais forte:

          - O amor é um exercício permanente e quando deixamos de fazê-lo o amor definha e às vezes se esconde nas sombras da indiferença e acaba sendo a própria sombra. Em última instância, evapora.


Se eu tivesse que traçar o perfil do meu ppai, Abel da Conceição Vieira, não saberia como fazer isso com precisão. Ele era tantas coisas na infância e outras tantas na adolescência e mais ainda na nos primeiros anos da fase adulta. Como posso resumir isso? Talvez numa frase simples como era ele: um homem bom.


É assim que me lembro dele, sempre. Principalmente nos momentos nos quais me falta serenidade para decidir o caminho a seguir. Ele sempre me incenetivava, com silêncio ou palavras, faziam com que eu acreditasse em mim. Seu Abel, um homem de bem.


Na semana passada, recebi um e-mail escrito em espanhol que me fez lembrar de meu pai com muita saudade. Imagino-o dizendo "muito bem", com os olhos brilhando de felicidade por mim e por ele. Econômico em palavras, as vezes, mas rico em afetos e gestos. A correspondência veio da Universidade de Hamburgo e informava que meu romance e o Cd com a trilha sonora do livro estavam na Biblioteca da instituição. Transcrevo e agradeço publicamente:


Estimado Ronald Junqueiro

por intermedio del profesor Gunter Karl Pressler hemos recibido su libro: Berlinda - asas para o fim do mundo. asi como la correspondiente CD. Por ambos le agradfecemos mucho y ya los introducimos a nuestra biblioteca.
Un saludo cordial desde Hamburgo

Gisela Hubert

Universität Hamburg
Fachbereichsbibliothek Sprache - Literatur - Medien
Teilbibliothek Spanisch-Portugiesisch


Assim caminha a Berlinda. Desejo que vá bem longe e até onde puder ir, como dizia seu Abel, quando o procurava para me aconselhar: "Faça o que for possível para que tudo dê certo. Se der certo, tu o fizeste por merecer".


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