Mergulho em em águas profundas. By Ronald Junqueiro
Na escuridão
andando e
tateando
com o coração
Sabadão da Copa.
Holanda leva o terceiro lugar mandando o Brasil para o quarto. 3 x 0. E assim sigo
em frente. Vou à praça torcer pela Alemanha, neste domingo, na final com a
Argentina. Estou na torcida pela a Alemanha, por várias razões, agora com um
cordão umbilical literário, com o surgimento de “Berlinda”.
No meio da
tarde, depois de uma paradinha no Facebook para ver as reações dos brasileiros
diante do resultado pífio alcançado pela Seleção Canarinho. Foi decepcionante a
eliminação do Brasil, que sediou a Copa, da maneira em que se deu. A goleada
inacreditável dada pela Alemanha, que terminou no 7 x 1 e que ameaçou ser mais.
Não morro de vergonha como milhões de apaixonados pelo futebol. Encaro o
resultado com frieza: o Brasil, que ainda não se curou da síndrome dos craques,
nem mesmo depois da derrota, sabe o que é equipe, time e apostou fichas no
Neymar, jogador talentoso e criativo, mas que não era e nem será o salvador da
Pátria de Chuteiras. Infame o que fazem os marqueteiros, cartolas, patrocinadores
e a mídia com um exército de jornalistas e comentaristas a afirmarem até o fim
que o melhor da seleção era Neymar, o pintinho do cocô de ouro para esse
exército de comprometidos e interessados apenas em dinheiro, em enriquecimento sob
as bênçãos da CBF e FIFA.
Passou como passam as estações.
Mas o que o
futebol tá fazendo aqui? Só marcando
presença. Também faz parte do diário da Berlinda que pode ir onde quiser.
Pois vem,
voltando do desvio, conheço um livreiro brasileiro que mora em Berlim e que é
dono da “A Livraria”, que tem muitos títulos brasileiros à venda. Hoje
encontrei com ele numa das postagens da rede e ele me disse que o meu livro
está à venda na sua livraria. Está à venda por 20 euros. Fiquei superfeliz com
a notícia e ela me dá disposição de encontrar outros caminhos para fazer meu
romance circular. É um mercado difícil, como falei outras vezes aqui, em
especial para escritores independentes como eu, publicados por editoras
pequenas – isso não tem nada a ver com qualidade do produto, apenas com dificuldade
de distribuição.
Para escritores
fora do circuito das grandes editoras é, realmente, participar de uma maratona
sem uma boa musculatura. Mas isso também não pode ser motivo para fazer
desistir quem quer se lançar em uma aventura literária. Mais do que antes, vejo
que o mundo é cheio de histórias que podem ser contadas e que essa vidinha
comum como muitas vezes a gente fala, principalmente quando anda de fogo baixo,
tem gente incrível e personagens capazes de nos surpreender se topamos com eles
em alguma esquina, onde dê para fazer uma paradinha para conversar. Passei
muito tempo achando as histórias da minha família e de amigos próximos tão sem
graça e agora, depois de colocar o pé na terra dos escritores, vejo tudo de
forma diferente.
Atribuímos uma
condição especial nessa instância literária para olhar o mundo por onde
transitamos, mas se nos déssemos conta de que essa condição especial na verdade
é nosso cotidiano, creio que estabeleceríamos uma nova relação com tudo o que
nos cerca, penso que poderíamos olhar o mundo maravilhado com o que nós podemos
aprender, a nos aventurarmos de uma forma mais livre e verdadeira, sem tantas
simulações sociais. As pessoas que estão por perto são cheias de histórias para
contar, basta que a gente pare para ouvi-las.
A experiência da
“Berlinda” me deixou esse legado. Há momentos em que olho tudo como página em
branco pronta para ser preenchida e outras vezes ouço como se virasse páginas
já escritas, prontas para impressão. Não há velhas histórias, tudo é muito
pulsante em nossa volta e é matéria que pode ser transformada em narrativa.
Assim se dá com
música, outro momento de criação que é incrível. Hoje comecei a ler e estudar
um pouco de haikai. Há muito tempo eu andava namorado esse tipo de poesia
japonesa. É uma arquitetura fascinante construída com dezessete sílabas. Isso
me remeteu aos modos modernos de escrever como a onda de escrever nano contos
com o mesmo número de caracteres usados no Twitter. Esse minimalismo da fala
que as pessoas levam para o altar como o formato para a velocidade do mundo moderno,
condenado à falta de tempo, é uma pregação mentirosa. O Haikai veio antes do
Twitter.
Vejo de outra
forma: a fala ou a escrita podem ser minimalistas ou nano escritas para dar
precisão à fala, á poesia, à prosa, ao diálogo.
Não deve ser encarada como economia de palavras, mas de construção e de
plasticidade. Comecei a fazer exercícios que penso publicar aqui no blog, tenho
só que amadurecer mais essa ideia e buscar um motivo.
Estou meio sem
gás para continuar a escrever. Mas volto.
Bye, bye.
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