Ruas de uma cidade. Dr. Freitas. Belém. By Ronald Junqueiro |
Depois de
Jubaldo e Rubem Alves, outro adeus de provocar tristeza foi o de Ariano Suassuna.
Quero apenas deixar marcado esse dia, no sábado do Diário. Eles se foram, mas
deixaram seus personagens, a rica prosa e a poesia para todas as gerações.
Esta semana foi
bem diferente. Entrei nas redes sociais e ofereci meu CD para amigos que já
haviam comprado o livro e, também, para que não tinha o romance. E a
reposta foi positiva. Fiquei surpreso com a acolhida. Inaugurei o serviço de “autor
delivery”, por tempo determinado. E eu
mesmo fui deixar de porta em porta as encomendas. Lembrei-me de algumas noites
boêmias no Rio e São Paulo, quando apareciam poetas e escritores se
autodenominando alternativos ou marginais oferecendo suas “crias e criações”,
em especial nas décadas de 70 e 80, quando eu sempre colocava as duas cidades
nos meus planos de férias. Olhando para trás, vejo o quanto eram invisíveis
esses personagens da noite.
Lá ou cá, o
sentimento não é outro. Não para todos evidentemente. Mas estou sentindo na
pele a invisibilidade que acompanha autores de editoras pequenas ou de edições
independentes. Mais ainda quem está dando os primeiros passos a caminho de
paraísos ficcionais. Andar nas estradas das letras pode ferir os pés tanto
quanto o caminho de brasas, lâminas e pedras. Não com a mesma dor do caminho
real, claro, e nem com tanta dor que, na verdade, é apenas figura de linguagem.
Escrever não é tortura, logo, a dor pode ser fingimento, como na poesia
pessoana.
O certo é que
assumi o uniforme de consultor ou vendedor de cosméticos e perfumes, com todo o
respeito. Mas vamos admitir que livros e cds sejam produtos e não filhos. Envolvem
um processo de produção e pós-produção que significa custos. Por isso penso que
sonhos precisam de orçamento. As dificuldades de não ter distribuidor e uma
editora grande que banque o produto no mercado, deixam o autor refém de uma
rede de amigos e conhecidos. Não é a situação ideal, mas se a realidade é essa,
vamos jogar a favor. É o tal trabalho de formiguinha embalado no canto da
cigarra.
Eu desejo ao
romance vida longa e ao cd, idem. Acredito que foi um projeto ousado para um iniciante
que pegou gosto pelo ofício. Não é ato de loucura. Ficou tão claro para mim que
escrever é um modo de ser feliz, um abrigo, um refúgio e se eu puder me
aconchegar nessa imaginária caverna, farei isso.
Não importa o
caminho e suas surpresas, acho que a gente nasceu para caminhar, para seguir
uma trilha, tanto faz seja torta aos olhos alheios. Como digo na letra de uma
das músicas que estão no cd.
Qualquer amor é possível
se estou disposto
se o caminho é livre
Tanto faz ser torto.
Daqui não
levamos nada na hora da partida. Se pudermos deixar alguma coisa, como uma vaga
lembrança, que seja. E que seja lembrança das boas, que possa ser plantada qual
semente na memória de quem se possa espalhar esse pouco de nós. É o melhor
pagamento. Eu quero me fazer merecedor disso tudo e no que depender de mim
farei por merecer.
A ideia é
próximo livro. Ele já está a caminho.