Toda vez que visito Virgínia Woolf e
chego ao fim da história me deparo olhando o tempo em branco, por alguns
minutos. Seus personagens são tão familiares
que me deixam saudade. Cada leitura é, realmente, como se fosse uma visita a
pessoas queridas, como passar dias e noites em boa companhia, mesmo que a gente
tope com este ou aquele personagem desagradável, o "mala" da
história. Sinto-me como se estivesse numa encruzilhada literária, agora, depois
de ter voltado do Farol. Qual será o próximo passo? Reluto em iniciar a marcha.
Tento desviar esse lapso com outras coisas. Encho a cabeça com colagens do dia
e do dia anterior. Basta isso para criar conexões com o tempo, ir pra longe
estando aqui mesmo.
Passo na sala e ligo a televisão. Vejo o
noticiário. Morreu, no Rio de Janeiro, a cantora Marlene,
aos 91 anos. Foi rainha do Rádio junto com Emilinha Borba, que morreu em 2005.
Bate uma tristeza inesperada. Lembro-me
do dia que vi um show com ela, no Teatro João Caetano. Era o “Te pego pela
palavra”, dirigido pelo compositor e poeta Hermínio Bello de Carvalho. E foi um momento especial ver Marlene cantar “Rock’n’roll”,
do meu amigo e parceiro Vital Lima que tinha se mudado para o Rio de Janeiro
atrás de um novo tempo, traçando um novo destino. A música é uma das minhas
pontes para lembrar felicidades.
Não ligue se eu estou calado
Pegue aí do lado um livro
Premiado livro
E fique lendo
Eu tenho o peito magoado
E com o silêncio achado
Fico mais tranquilo
Fico me perdendo
Meu amor,
Cante-me um rock’n’roll
Quero gritar na sala, na cozinha
Do meu lar.
Marlene pediu para que suas cinzas
fossem jogadas na baía da Guanabara. Nascida Vitória Bonaiucci, em São Paulo,
adotou o nome Marlene em homenagem a Marlene Dietrich. E foi rainha, desde a
era do rádio.
Nada de luto. Vou deixar na minha página
o verde amarelo de um Brasil que Marlene tanto amou. E porque é tempo de copa. Legal que Marlene
se foi em dias de festa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário