A primeira notícia que ouvi na manhã
deste sábado foi a que tomou conta das emissoras de televisão e das redes
sociais falando da morte do ator José Wilker, um brasileiro desses de dar
orgulho aos artistas de um país onde a cultura vive sempre mendigando
incentivos e dinheiro para, pelo menos ter a lona a cobrir-lhe o circo. É
incrível como as notícias podem causar impacto profundo e sentimentos inesperados
em fãs anônimos tipo eu, que me vejo meio recolhido para manifestar o meu
gostar. E nem entro em mais detalhes. Enquanto eu assistia um telejornal pela
manhã, com depoimentos de colegas e amigos do artista, pensava no quanto a unanimidade
pode ser uma declaração de inteligência, de reconhecimento coletivo da
genialidade, da excelência do artista artesão da sua arte. E tudo contradizendo
a tese de Nelson Rodrigues que a gente ouve repetir à exaustão que a
unanimidade é burra. E é incrível a tristeza verdadeira desse bando anônimo,
com a notícia decretando a orfandade de uma enorme plateia nacional.
Inteligente, culto, forte intelectualmente,
dono de um invejável humor que é bombardeado diariamente por bombardeios
insanos da violência, das falsetas, das mentiras. Assim ele era e continuará
sendo lembrado pelos amigos, pelos colegas e pelos mais próximos. Um brasileiro
do bem, desses que nos farão falta a partir de agora. Vi num flash da memória
da televisão, José Wilker mostrar-se inteiro, veio fazer o que queria fazer e
aprendeu a ser feliz. E generoso. Como no depoimento da atriz Bárbara Paz, de
uma geração de artistas mais novos, contar sobre o dia em que o Wilker
presenteou a ela livros e recomendou-lhe “se tranque no quarto e leia”, como um
bom mestre a apontar caminhos dos desvendamentos e de auto-aperfeiçoamento no
tempo que cabe a cada um.
Ele será o inesquecível mágico da
Caravana Holiday no filme “Bye bye Brasil”, o eterno Vadinho de “Dona Flor e
seus dois maridos”, o Roque Santeiro e outros tantos personagens a quem ele deu
vida... Portanto, imortal assim como são os personagens, que sobrevivem aos
seus autores e intérpretes. José Wilker não deixaria por menos, agora é imortal
personagem do Teatro, Cinema e Televisão Brasileiros, por onde transitou também
como diretor.
Quero só registrar minha admiração cá de
longe, na plateia. E mesmo assim José Wilker me parece tão perto. E me deixa
triste sua ida, dessas tristezas que hão de passar, pois acho que ele foi um
cara feliz e se foi feliz. Talvez nem tenha tido tempo de escolher uns óculos
ou um par novo de tênis para pegar a estrada. Numa entrevista que vi hoje, sobre a vida
de Wilker, ele dizia que quando deixou Juazeiro do Norte e se mudou para o Rio
de Janeiro, o plano era esse, não tinha plano, sabia apenas que não voltaria.
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