Art crime, ponto de encontro entre Berlim e Belém. Bye Ronald Junqueiro
Minha primeira agenda no Brasil, depois
de Berlim, será em junho. No dia 6, participo de um encontro que terá como tema
jornalismo e literatura. E estarei na companhia de outros dois coleguinhas que
lançaram livro recentemente: os jornalistas Walter Pinto, autor de "1932, a Revolução Constitucionalista de 1932 , e Ruth Rendeiro, que escreveu “Até que o câncer nos
separe”. Será um dos eventos da Feira Panamazônica do Livro, promovida pela
Secretaria de Estado de Cultura.
Vou aproveitar para lançar o CD com a
trilha sonora que já foi lançado em Berlim, durante as duas sessões de leitura
que fiz do romance “Berlinda – Asas para o fim do mundo”, no Instituto
Ibero-Americano e no Instituto de Estudos Latino-americano da Universidade
Livre de Berlim. Agora, a expectativa é outra e acho que a dinâmica também,
pois está implícito no tema da Feira, que vamos discutir em que momento e por
quais razões entramos no universo da literatura. Hoje eu penso um pouco mais
sobre o que me levou a provar as dores e amores de querer ser escritor. E nem contabilizo as dores reais da
falta de apoio efetivo para a cultura, que são muitas, que sobrecarregam quem
escolhe o caminho das pedras e flores para expressar o que acredita ser sua
arte, seu ofício.
A emoção de ter o livro pronto e seus
primeiros passos não mudou, mas ganhou nuances, pois a caminhada é muito
recente. Agora há um mercado a descobrir e nem sei divisar o percurso entre cá
e lá. Isso vou ter de aprender.
O sentimento que me assalta tem duplo
sentido: o de ser amador, por amar literatura e de ser amador por não ser um
escritor com portfólio, biografia, um agente literário e por não estar no cast
de uma editora. Ser escritor independente é como briga de Davi e Golias. Tenho
que encontrar e saber usar uma funda, ser bom no arremesso.
Ando agoniado com o tempo que tenho para
finalizar o CD. É uma loucura. Além de criar, ter que cuidar da produção é um
ato insano.
Essas coisas serão resolvidas, mas vou
levar algum tempo para recompor meu orçamento, pois num país em que o apoio
oficial tem jeito de ação entre amigos, o tal processo criativo precisa adotar
o artista se equilibrando na corda bamba.
Cair na real não é a pior coisa para
sempre, mas viver o real é uma prova de duras penas. Um teste de resistência e
determinação.
Nesses dias ando sem sono. Um vampirinho
com insônia e encontro alguns amigos que sofrem de insônia crônica, o que não é
o meu caso. Ontem encontrei a Meg Guimarães, que me inspirou muito quando eu
escrevia meu livro e que foi uma das primeiras leitoras antes do romance se
materializar em capa dura. Ela que padece dessa desavença com a cama e se sente
também uma vampirinha.
Esse estado de coisas gerou um papo
interessante do que é real. Como na música “Dentro de mim mora um anjo”, da
Suely Costa e Cacaso.
Quem me vê assim cantando
Não sabe nada de mim.
Dentro de mim mora um ano
Que tem a boca pintada
Que tem as asas pintadas
Que tem as unhas pintadas
Que passa horas a fio
No espelho do toucador.
Dentro de mim mora um anjo
Que me sufoca de amor
Dentro de mim mora um anjo
Montado sobre um cavalo
Que ele sangra de esporas
Eele é meu lado de dentro
Eu sou seu lado de fora
Quem me vê assim cantando
Não sabe nada de mim
Dentro de mim mora um anjo
Que arrasta suas medalhas
E batuca pandeiro
Que me prendeu em seus braços
Mas que é meu prisioneiro
Acho que é colombina
Acho que é bailarina
Acho que é brasileiro
Quem me vê assim cantando
Não sabe nada de mim
O que é o real? Cose è (se vi pare). À
benção Luigi Pirandello. Preciso resgatar a leitura da peça “Assim é, se lhe
parece”, um pequeno oráculo do real e do imaginário. Onde fica o glamour da
literatura? Esse arremate fica por conta de cada um. O ponto em cruz já foi feito
pela Meg que antes de cortar a linha nos dentes, dispara: “Não se pode confundir real com verdadeiro.”
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