sábado, 22 de fevereiro de 2014
sábado, 15 de fevereiro de 2014
Bye bye Spandau
Leo foi ao vagão-restaurante tomar um
café. Zarah não quis acompanhá-lo. Voltou e cochilou mais um pouco até
despertar com a mão de Zarah tocando seu ombro.
— Leo, temos que mudar de trem.
Aconteceu algum problema na estação. Você entendeu a informação no som interno?
— Não. Ouvi só a palavra Achtung!
Mas não prestei atenção. O que houve?
— Parece que alguém cometeu suicídio. Um
jovem teria se jogado nos trilhos quando o trem parava na estação.
— Onde nós estamos?
— Em Kassel.
O vagão rapidamente esvaziou-se.
Passageiros andavam rápido, em filas duplas, atrás de um novo vagão do trem
para onde estavam sendo transferidos.
A notícia dada pelo sistema de som era
tão burocrática... Alguém se suicidara, e era como se o sujeito tivesse
escorregado em uma casca de banana. Os trens não podiam parar, nem o tráfego
ficar refém de um suicida, o trânsito tinha que fluir sem atropelos. Os
horários a cumprir. A vida rodava na paranoia dos ponteiros. A vida continuava.
Não para todos, evidentemente. Alguém sempre ficava para trás. Com ele não era
diferente, assim pensava.
— Vamos nos atrasar na chegada?
— Quase nada. Para a companhia, foi
apenas um incidente. Mas não vamos descer na estação central como antes. Nossa
parada será Spandau.
Spandau soou familiar. Era um nome
ligado à guerra, sempre a guerra, entranhada em cada poro da história daquele
povo. O bairro abrigou a prisão de nazistas que foi demolida depois da morte de
Rudolf Hess, que ali viveu 20 anos e que praticamente foi, no final da vida, o
único prisioneiro a ficar no local. Berlin, cidade que oferecia uma intimidade
histórica, como se todos fossem testemunhas atemporais de tudo o que ali se
passou. Ela refletia, que nem espelhos bem polidos, uma produção lucrativa ao
alcance de todos. A guerra gerava produtos muito mais vendáveis do que a paz.
As cidades, além de cenários, eram protagonistas.
(...)
Berlin. Noite. Spandau. Leo sentiu o
coração acelerado, cheio de uma saudade indefinida, de uma sensação noturna.
Trechos à meia-luz, a baixa iluminação em algumas estações do metrô, janelas
reveladas pelo clarão de um televisor ligado que se via do lado de fora. Ou a
luz que vazava de escritórios ainda abertos. A solidão era passageira de muitos
vagões. A voz que anunciava cada parada denunciava um entrar e sair mecânicos.
De Spandau até Berlinerstrasse eram dez paradas. E veio-lhe à cabeça a estação
de Pulitzbrücke, lugar de onde saíam os judeus para os campos de concentração.
As estações permaneciam até hoje indiferentes a esse ir e vir, ao movimento de
passageiros, o que parecia às vezes um sem destino ou o colapso. Havia tantos
lugares em Berlin por onde ele nunca passeara... Leo adorava a sonoridade de
alguns nomes, como Prenzlauer Berg, Moabit, Hansaviertel, Pankow, Tempelhof,
Tegel, Görlitz. Desta
vez, queria ver de perto a
Bernauerstrasse e o Palácio das Lágrimas que abrigou as tristezas das
despedidas entre as duas cidades separadas pelo muro. A cidade tinha um lado
melancólico nas horas noturnas, abaixo das sombras. E por ela passeavam
fantasmas. Apesar da atmosfera cinza, lá no fundo havia uma certeza de que
Berlin tinha vocação para a festa.
— Você quer comer alguma coisa? —
perguntou Zarah ao saírem da estação da Berlinerstrasse. — Há um pequeno
restaurante turco perto de casa.
(Berlinda – asas para o fim do mundo. Capítulo
Berlinda 1, Páginas 22/23)
Um dia especial. Um tom de adeus Berlim,
em Spandau. E era sábado. Conheci a Zitadelle, fortaleza medieval construída
numa ilha criada no encontro dos rios Havel e Spree para proteger Spandau, que
hoje faz parte de Berlim. A Zitadelle começou a ser planejada em 1557 pelo
arquiteto italiano Francesco Chiaramella de Gandino, substituído um ano depois
pelo também arquiteto italiano Lynar zu Graf Rochus.
É incrível como a Zitadelle lembra a
fortaleza de Macapá.
A fortaleza de Spandau foi erguida entre
quatro bastiões dispostos simetricamente e ligados por paredes de cortina,
eliminado pontos cegos onde os inimigos pudessem se esconder. Só não resistiu
às investidas do exército de Napoleão Bonaparte, quando a cidade foi atacada
por volta de 1806. Mas escapou dos bombardeios na Segunda Guerra Mundial.
O
trabalho de conservação desse monumento da renascença militar da alemã é um
exemplo de defesa também da memória e da história local. O projeto de
restauração vem desde a década de 60.
Spandau passou a fazer parte de Berlim
em 1920. É um dos maiores bairros de Berlim e o menos povoado. Desfruta de uma
paz de zona rural, quebrada quando tem jogo do Herta de Berlim no Estádio
Olímpico que fica nas vizinhanças. No mais, lembra pequenas cidades europeias,
com um pequeno comércio, uma igreja antiga cheia de histórias.
A Zitadelle é mais que um sítio
histórico. Ali funciona uma escola de arte, ateliers, centro cultural, teatro,
restaurante, café, galerias e museus. Também vira palco para grandes shows de
música e teatro. Chama atenção um canto onde estão 28 estátuas encontradas que
estavam soterradas nas ruínas do Tiergarten, durante os bombardeios da segunda
guerra.
Foi à primeira vez que passei por lá. No
final da visita, uma parada no restaurante para matar a sede com uma cerveja da
casa e uma sopa de batatas. Uma noite mágica que se encerrou com o show de um
mágico que animava uma festa de aniversário de crianças que usavam roupas e
adereços medievais.
Uma noite de fantasia.
Local: Belém do Pará, Amazônia,Brazil
Spandau, República Federal da Alemanha
sábado, 1 de fevereiro de 2014
Noite da Berlinda no LAI
A noite da Berlinda no LAI teve até dança de salão no final
O 31 de janeiro. Outro dia que ficará da
memória. Na leitura e na apresentação das músicas do Livro, na sala 201 do
Lateinamerika Institut da Universidade Livre de Berlin, desatretalaram a corda
da Berlinda e o final virou um grande salão de festa para brasileiros e alemães
ao som de “Morena das ilhas”, parceria com Firmo Cardoso. Depois teve
comemoração no Hell oder Dunkel, restaurante que ficará na lembrança, um
cantinho ao qual sempre voltarei quando estiver em Berlim.
Sábado de ressaca. Nem o sol que abriu o
tempo na cidade e o movimento alegre das ruas com o dia claro me tirou do
apartamento. Hora de fazer as malas. Fecharei as janelas do apartamento e uma
página dessa aventura que me trouxe para o inverno daqui, como se estivesse
escrito no tempo. E com direito a participações especiais, como a entrada em
cena de três personagens do livro. Leo, Engel e Alessia ganharam corpo e alma,
sem grandes ensaios, pois era uma performance, simples como contar uma história
da plateia.
Quando eu voltar para Belém, contarei um
pouco mais desses encantamentos. Logo mais é domingo. Vou sair do tranquilo
bairro de Friedenau, em Wilmersdorf e vou para Kreuzberg. Um tantinho de
saudade. E com indisfarçável alegria de viajante.
No romance, o último capítulo acontece num inverno rigoroso, glacial, com promessa de vida no meu coração,
que pulsa numa frase de amor: Berlin, ich liebe dich.
ALGUNS MOMENTOS DA NOITE DE LEITURA
Assinar:
Postagens (Atom)